A dois dias do Dia Mundial da Rádio – 13 de fevereiro –, a Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR) promoveu o 15.º Congresso Nacional de Radiodifusão. O evento, que foi «um dos mais participados», decorreu no concelho de Porto de Mós e contou com 102 rádios apoiantes e cerca de 130 participantes de todo o país, incluindo rádios das regiões autónomas da Madeira e dos Açores.
De acordo com o presidente da APR, Luís Mendonça, «o evento serviu para mostrar que as rádios portuguesas estão unidas e, apesar de estarem preocupadas com o seu futuro, estão a procurar acompanhar a evolução tecnológica». «As rádios são o garante da democracia no país e estão com muitas dificuldades de financiamento. Além disso, o Estado não tem acompanhado esta preocupação das rádios», diz, considerando ainda que há «uma falta de políticas públicas gritante». Entre as reivindicações das rádios estão algumas formas de financiamento que, de momento, não existem: «Queremos ter direito a tempos de antena em todas as eleições (e não apenas nas Autárquicas e nos Referendos), queremos que as associações do setor voltem a distribuir a publicidade institucional do Estado, e temos que ser reconhecidos como produtores de conteúdos e, por isso, ter direito aos Direitos de Autor e Conexos e, a partir daí, termos direito uma percentagem da verba anual da Lei da Cópia Privada, que no último ano ultrapassou os 33 milhões de euros», alertou Luís Mendonça, no último painel do dia, que debateu “Os desafios da gestão e novos modelos de negócio das empresas de Rádio em tempo de crise”.
A acompanhar Luís Mendonça, neste painel, esteve também Nuno Inácio, presidente da direção da Associação de Rádios de Inspiração Cristã, que depois de apresentar alguns caminhos para a «monetização» dos conteúdos, frisou que as rádios locais precisam de ter recursos para voltar a ser o que esteve na sua génese: serem, de facto, locais, oferecendo, assim, aos ouvintes, conteúdo diferenciador.
Ao longo do dia houve ainda mais dois painéis, um deles dedicado aos “Novos territórios do podcast”, onde, além de dados estatísticos, se apresentaram exemplos concretos de como «o podcast pode salvar a rádio», ideia defendida pelo subdiretor da Rádio Observador, Ricardo Conceição. No mesmo painel, Miguel Paisana, investigador do OBERCOM, mostrou como os podcasts podem ser “terreno fértil”, ao divulgar um estudo que apresenta Portugal como um dos países da Europa que mais escuta de podcasts, um «consumo que tem vindo a aumentar nos últimos anos». A forma de financiamento deste recurso foi um dos problemas em debate, destacado também por Ana Isabel Reis, docente e investigadora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Em discussão estiveram também os “Novos paradigmas” da rádio, tendo Pedro Braumann (professor da ESCS – IPL e diretor na RTP); Arcindo Guimarães (administrador do grupo Voz On); e Luís Matias (realizador na Rádio Diana FM) debatido o presente e o futuro da rádio, dando como exemplo os rádios dos carros. É no carro que a maior parte das pessoas houve rádio, no entanto, os rádios mais modernos, não são apenas rádios, mas um painel em que cada condutor tem acesso a uma série de funcionalidades, podendo a rádio vir a deixar de ser o “ícone” mais escolhido. Apesar deste cenário menos animador, foi tónica geral do congresso que a rádio está longe de morrer.
Presente na cerimónia de abertura do congresso esteve Sérgio Gomes da Silva, em representação do Ministro da Cultura, que ressalvou o «importante papel» das rádios «na Cultura e na democracia». Ao lado dos responsáveis pelas rádios esteve também o presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós, Jorge Vala, que ao abrir o congresso, frisou ser «fundamental um reforço do apoio estatal» para as rádios locais, uma vez que «as rádios continuam a oferecer muitos mais do que aquilo que recebem». O autarca associou-se às reivindicações do setor, sublinhando que as «dificuldades para o investimento na modernização, os fracos apoios e a pouca publicidade» contribuem para o enfraquecimento das rádios locais.
Este foi o primeiro Congresso da APR realizado despois da pandemia, o anterior teve lugar em Pombal, em 2017.
A Associação Portuguesa de Radiodifusão é a maior associação de rádios portuguesa engloba 170 rádios, locais, regionais, nacionais e o operador público de rádio.